Atualizado: 6 de mar. de 2023
Esta frase de José Pacheco, educador e fundador da Escola da Ponte em Portugal, parece ter se personificado no momento atual. Afinal de contas, as escolas não estão mais em seus prédios, estão repartidas nas casas e nas telas de cada um. Isto parece provar que as escolas não dependem da sua estrutura física para acontecer, mas sim de seus alunos e educadores que, conectados pelas ferramentas tecnológicas estão conseguindo tocar o barco.
Eureca! O sentido da emblemática frase se desvelou para nós em plena pandemia. Descobrimos que aquilo que Pacheco nos falava é possível de acontecer!
Será mesmo?
A internet é especialmente adequada para os modelos de aula expositiva, aqueles em que o professor fala, os alunos escutam e fazem anotações. As dúvidas, que se organizavam pelos dedos levantados, podem ser escritas no chat. O silêncio, que antes dependia de um pedido, um grito, uma bronca, agora depende de um único botão. Mute.
Escola não ser prédio diz respeito ao engessamento da instituição. Vem dizer que o espaço não traz garantia de ensino, muito menos de aprendizado. Que toda construção de conhecimento depende das pessoas e vai continuar dependendo no ambiente virtual. Educação se dá em todo e qualquer espaço.
Se precisamos de dedos levantados como um pedido de permissão é porque os estudantes não têm a vivência do diálogo e da escuta, portanto não sabem a melhor hora de colocar sua dúvida ou observação sem atropelo. Se precisamos “mutar”, ou seja, desligar o microfone de um aluno é porque ele não nos respeita a ponto de ouvir um pedido e isso talvez se dê porque nós não respeitamos seu direito de fala. Outros espaços de nada adiantarão se continuarmos com velhas práticas.
O quadro está a serviço do professor e do aluno, ele não precisa ser o centro das atenções. Um livro, igualmente, se desperdiça quando se decora. A mesa é um utensílio importante, mas quem disse que não se pode aprender no chão? Levantar o dedo para indicar desejo de fala é um gesto importante que nos acompanha toda a vida, mas quantas vezes este gesto não está a serviço do egocentrismo de um professor?
Escolas não são prédios, mas que bom que as crianças têm um espaço de convívio seguro e adequado às suas necessidades – já que nossa cidade e nosso jeito de viver em comunidade não proporcionam isso. Só não podemos esquecer que o espaço está a serviço de quem o ocupa e não o contrário. Que usos temos feito do nosso espaço? Ou melhor, que espaços temos criado para os usos que desejamos?
Escolas são pessoas, dependem da sua prática. Presencial ou virtual, a questão não é apenas como, mas o que tem sido feito pelas pessoas nas escolas.
Rianne Zabaleta