Defeito não existe, mas perfeição sim.

Se pararmos para pensar, logo veremos que defeito é algo que só existe em relação. Em relação a um ideal, uma idealização, ou ao que comumente chamamos de perfeição.

Celular dá defeito, máquina de lavar roupas também. Foram criados e programados para um fim, para um jeito “certo” de ser. Nós, não. E quando entendemos isso, quando compreendemos que não existem modelos universais a serem seguidos¹, o conceito de defeito, ou falta, ou falha, para de existir². Porque nesse caso todos os modos de ser são possíveis, simplesmente porque são e não porque são em comparação a um ideal.

Por esse ponto de vista, de comparação a uma idealização, que é algo inalcançável, seremos sempre devedores, falhados³. Pelo outro, porém, seremos tudo o que podemos ser. Seremos perfeitos, mas pela perspectiva de Espinosa.

Para ele, perfei­ção e realidade são a mesma coisa porque todas as coisas estão, o tempo todo, dando seu máximo, sua máxima potência. A perfeição, nesse sentido, não tem a ver com felicidade ou bem-estar, mas com a expressão do que somos. Essa perspectiva nos conduz a um caminho menos comparativo e cruel por meio do qual o valor de alguém não se dá em relação a um outro, mas em relação a si mesmo e suas possibilidades.

Você pode estar se perguntando: se tudo e todos são perfeitos, isto significa que não temos mais aonde ir?

Se compreendemos perfeição como realidade e não como fim da linha, ou chegada, realmente não temos aonde ir, porque já estamos. Mas isto não significa que não possamos ser mais perfeitos a cada dia, ou melhor, isto não significa que a realidade não possa ser ainda melhor, ou mais perfeita, amanhã.

¹ E não estou dizendo que as pessoas não possam encontrar modelos, admirar pessoas e ter em que se inspirar, estou falando de modelos universais que prescrevem fins, finalidade, ao ser humano e também à natureza, e provocam sofrimento com isso.

² E nós passamos a respeitar e paramos de julgar.

³ E isso não carrega traços de algumas tradições religiosas?

Por:

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Rianne Zabaleta

Psicóloga, estudiosa da vida, observadora do tempo, interessada pela singularidade de cada trajetória humana.

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