Crie hábitos, mantenha hábitos, mas cultive diferença.

Acordamos, conferimos a hora, seguimos para o banheiro ou para a cozinha e fazemos o que quer que seja o nosso hábito. Não precisamos pensar e, sobretudo, decidir sobre essas coisas. Conforme as situações se repetem, não só nos acostumamos com elas como esperamos que elas sejam sempre assim. Os hábitos nos ajudam a não precisar inventar a roda todos os dias e este “piloto automático” é energeticamente eficiente para o nosso cérebro. Que bom que todo dia amanhece, que todo dia já sabemos como nos deslocar até o trabalho, que todos os dias nos alimentamos e que não precisamos pensar muito sobre nada disso, liberando energia para outros aspectos da nossa vida que são mais dinâmicos e precisam de tomadas ativas de decisão, como no trabalho ou na educação de nossos filhos por exemplo.

Além disso, ter hábitos é uma forma importante de nos sentirmos equilibrados e “sob/no controle”, algo muito desejado pelas pessoas hoje em dia. É como ter onde se agarrar no meio do caos. Isto porque os hábitos, além de serem um tipo de memória, carregam memórias e afetos. Deste modo, ao enfrentar uma transformação radical em nossas vidas, como mudar de país por exemplo, é recomendado conservar alguns hábitos que nos ofereçam o conforto de um lugar conhecido no período de adaptação. Além disso, manter hábitos ligados à nossa cultura de origem é uma forma de mantê-la viva em nós.

Entretanto, embora manter certos hábitos seja imprescindível e ofereça inúmeros benefícios, é importante estarmos atentos para o que sustenta determinados hábitos em nossas vidas. Convém perceber e pensar: por que motivo fazemos a manutenção de um hábito que, às vezes, nem nos serve mais? O que pode estar envolvido nessa repetição? A infância nos oferece bons exemplos de hábitos ou rotinas que vão sendo substituídos aos poucos, na medida em que não são mais necessários. A introdução de novos hábitos, mais compatíveis com aquilo que a criança já pode, nos mostra que ela está crescendo. O estabelecimento de novos hábitos – não só de comportamento, mas também de pensamento – é algo muito importante para nos adaptarmos aos movimentos da vida.

Nada novo provém do mesmo, é preciso diferença na repetição para criar um novo ritmo. Acreditar num mundo melhor é acreditar na diferença, na capacidade de fazermos e sermos diferentes. É importante estarmos atentos para não permitir que, por hábito, deixemos passar belos momentos da vida, pequenos episódios cotidianos aos quais não damos atenção pelo simples hábito nos sentarmos aqui e não ali.

Por:

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Rianne Zabaleta

Psicóloga, estudiosa da vida, observadora do tempo, interessada pela singularidade de cada trajetória humana.

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